segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Doris Lassing, aos 88 anos o Prémio Nobel: uma tímida e dedicada voz…

Literature maps the world for us. D.L.

Há uma questão que irrompe frequentemente na minha cabeça desde 11 de Outubro e que me deixa perplexa, sem resposta. Pergunto-me que personagens de ficção conduziram Doris Lessing ao Prémio Nobel? A Martha Quest que cresceu na savana africana impondo a sua rebeldia a uma sociedade dominada pelo preconceito? Terá sido Bem Lovatt que trouxe a inquietação e a noção de horror ao seio de uma família estruturada e entendida como perfeita? A Anna Wulf que busca libertar-se do sufoco que os padrões da sociedade lhe impõem, ameaçando a sua saúde mental e que descobre na escrita o caminho da liberdade? Ou Sarah Durham que se escapule do envelhecimento do corpo e de convenções quando se apaixona aos 65 anos?

Ms Lessing tem uma vasta obra literária que abrange a ficção, o ensaio, a poesia, a ficção científica e o teatro. A sua obra tem sido objecto de inúmeros estudos académicos que convergem em alguns pontos. Percorrer as páginas de The Grass is Singing, Going Home, Particularly Cats, The Memoirs of a Survivor, ou London Observed é cruzarmo-nos com as histórias vividas pela escritora. Efectivamente se analisamos os dados biográficos intuímos que existe um paralelismo entre o que viveu e o que contou. Enquanto criança vagueou pela savana ardente africana de This was the Old Chief’s Country; na idade adulta experimentou a vertigem de se sentir ligada a um projecto político, de que A Good Terrorist é um testemunho surpreendente; aquando da chegada a Londres apaixona-se pela cidade e transporta as pessoas que espia no metropolitano para as páginas de London Observed; numa fase mais madura reflecte sobre o envelhecimento e o consequente estigma social em The Diaries of Jane Sommers. O universo literário que construiu prende-se com o que viveu e sobre essas vivências criou testemunhos na escrita. Os livros que publicou deram-lhe a oportunidade de revisitar o passado, redesenhando uma rede de afectos que se encobre numa voz despojada de sentimentalismo e que se caracteriza pela vontade de dar um testemunho do vivido e experimentado, ao mesmo tempo que encarnava as diferentes personagens dos que não possuíam voz. Essa “ small, personal voice”, como frequentemente gosta de matizar, conduz os seus leitores ao encontro das plantações africanas, a um passeio em Green Park, ao refúgio numa casa em ruínas na cidade de Peshawar, a espaços desconhecidos no universo quando o planeta se revela acanhado para propiciar a dimensão onírica que o homem deve usufruir.

Numa comunicação afirmou que a infelicidade da infância se coaduna com o perfil de escritores de ficção. Isso deve importar muito pouco aos que a reverenciam como a grande romancista que atravessou o século XX com olhar observador e espírito arguto, ganhando os prémios literários mais importantes, e que culmina em 2007 na atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Este reconhecimento público sensibiliza os leitores que têm amado as suas páginas em privado. Doris Lessing recebeu a notícia com a tranquilidade e desprendimento que lhe é conhecido.

Quando esta voz ficar retida no mundo do silêncio, sei que a dor da partida de um familiar marcará a minha vida mas a perspectiva de algumas páginas escondidas na sua casa no norte de Londres atenuarão a mágoa. Ms Lessing tem 88 anos e continua a escrever.

Regresso de onde? Nunca parti, nem regressei. D.L.

Elisabete Frade (Professora de Inglês, na Escola Secundária Públia Hortênsia de Castro – Vila Viçosa).

sábado, 13 de outubro de 2007

O Amor nos Tempos da Cólera, Gabriel Garcia Marquez, 1985


As diferentes formas que o amor pode adoptar, a inexorável passagem do tempo, a solidão e o sempre presente desejo de acabar com ela, antes que a própria vida “acabe connosco” são, enfim, os pontos cardeais desta história.

Como é usual nos grandes livros, O Amor nos Tempos da Cólera tem por base não um, mas vários temas. O principal é, sem dúvida, o amor de Florentino Ariza por Fermina Daza, que tardará nada mais nada menos que cinquenta anos a consumar-se…

Retratando a América Latina do século XIX, uma época na qual, não raras vezes, a existência humana acabava de um dia para o outro por caprichos da natureza como a cólera, a efemeridade da vida está sempre presente na história, lado a lado com a urgência de amar e ser amado, como única forma de sentir que ainda estamos vivos.

Já li três vezes :-)

Paula Calado Fevereiro

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

«Regresso à Escola»


Escola Secundária de Campo Maior
«Regresso à Escola»
Presidência Portuguesa da União Europeia, 9 de Outubro 2007

Numa iniciativa conjunta da Representação da Comissão Europeia e do Governo Português foi lançado o repto de alguns funcionários, políticos, deputados regressarem à escola. Assim, no dia 9 de Outubro, a Escola Secundária de Campo Maior recebe a Dr. ª Silvéria Carichas, alta funcionária da União Europeia, para uma conversa informal sobre a União Europeia, com os alunos do secundário, às 15:30h.
A Escola Secundária congratula-se com o facto de ter sido contemplada com esta iniciativa e associou-se de imediato às comemorações contando com a presença da Sr.ª Coordenadora do Centro de Área Educativa Dr.ª Maria José Ferreira.

domingo, 7 de outubro de 2007

Cemitério de Pianos – José Luis Peixoto


Três gerações de laços de uma teia de relações emocionais de uma família alfacinha de Benfica, de classe média-baixa interagem desde o início do século XX com muitas tristezas, algumas alegrias, alguns segredos e traições.

O Cemitério de Pianos funciona como local de trabalho, centro de meditação e centro de furacão da empresa familiar.

Peixoto consegue através da utilização de narradores da família, já no mundo dos mortos e ainda no feudo dos vivos prender-nos a atenção e tornar-nos observadores cúmplices, para o desenvolvimento da acção, muitas vezes socorrendo-se com rara mestria de um ritmo temporal intermitente, pleno de idas ao passado e regressos ao presente da narrativa.

O escritor consegue ainda confrontar de forma notável a consciência colectiva familiar lusitana actual com a a forma de estar, de ser e de viver de outros tempos, conseguindo no entanto que a teia de ralações da família seja perfeitamente actual.

De louvar também a sentida homenagem que o autor faz a Francisco Lázaro, o atleta português que correu a maratona nos Jogos Olímpicos de Estocolmo.

Ricardo Simões