terça-feira, 13 de março de 2007

The life of Pi de Yann Martel venceu o prémio literário Booker Prize em 2002


Piscine Molitor Patel, ou Pi, cresceu em Pondicherry, Índia, com a sua família. Apesar de introvertido e de ter poucos amigos, Pi revela uma curiosidade natural pelo mundo que o rodeia. A família Patel decide ir viver para o Canadá e embarca num cargueiro japonês com alguns animais. O navio naufraga, salvando-se apenas Pi e alguns dos animais: uma hiena, uma zebra, um orangotango e um tigre de Bengala, de nome próprio Richard Parker.
Pi resiste a condições adversas enfrentando os perigos do mar durante 227 dias. Luta pela sua subsistência, lida com a solidão, a angústia e o medo do desconhecido. Mas a sua maior prova de resistência é o entendimento com o tigre no salva-vidas.
Numa abordagem humanista da relação com animais, o autor sustenta que é através do contacto com estes que o homem aprende e revela aspectos da essência humana. Mostra ainda que o convívio num pequeno espaço entre predador e presa é possível mediante o cumprimento de simples regras da Natureza.
A aventura de Pi pode ser encarada em termos alegóricos, permitindo estabelecer analogias com o dia a dia da vida humana, e em termos metafóricos explorando e construindo a dimensão interior da sua personagem num plano paralelo à realidade, inverosímil, e no entanto, credível. O leitor pode sempre encontrar uma ilha flutuante ou ter um Richard Parker na sua vida. Um bom romance também deverá ter estas características. Como diz Helena Vasconcelos em “Pi e os deuses”, Storm 2002, “O formidável apelo deste mesmo “realismo mágico” é possível que resida no facto de recuperar aquilo que é a essência do romance como género: contar uma boa história, escapar a uma simples rigidez de constatação dos factos (como no jornalismo, o qual, até ele, já se envolve subtilmente a até namora descaradamente com a ficção) e, mais difícil do que tudo o resto, convencer o leitor da plausibilidade de situações e de personagens por mais irrealistas ou fantásticas que elas sejam.”
Talvez no fundo não seja uma história capaz de nos fazer acreditar em Deus mas de acreditar na necessidade humana de contar histórias para dar sentido ao mundo. Por isso, há que fazer um “salto de fé”, ou simplesmente testar a nossa capacidade de acreditar no improvável. Não sabemos qual das histórias é a verdadeira. Mas escolhemos a que quisermos. Ao fazê-lo actualizamos e revivemos o papel da literatura e do leitor... porque o mundo é a história que fazemos dele.

Teresa Branco

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