O herói do nosso livro é Edwin de Valu, um enfadonho e nervoso funcionário de segunda de uma editora de mediana qualidade (A Panderic) que trabalha na secção da não-ficção. Ou seja, é co-responsável pela edição de livros medianamente interessantíssimos (assim como o livro que nos foi trazido pela Anais). Ao iniciarmos a leitura deparamos Edwin no início de mais um incipiente dia de trabalho que se afigura mediocremente normal. Na sua secretária amontoam-se inúmeros manuscritos de candidatos a escritores. Edwin avalia títulos tão interessantes como:
· As Luas de Thoxth-Aqogxnir; Causídico a Monte; Matar um Assassino…e O Que Aprendi Na Montanha… este último de uma senhor chamado Tupak Soiree.
Todos os manuscritos vão direitinhos para o caixote do lixo e segue-se uma aborrecida reunião com o desmiolado do editor chefe. A secção editorial da não ficção tem um problema: o catálogo de Outono tem um buraco no que respeita a livros de auto-ajuda. Todos os anos, no Outono, a Panderic têm lançado livros de um escritor a que apelidaram Sr. Ética. Esta alcunha adveio do facto dos livros deste escritor terem títulos tais como:
· O Guia da Ética da Pessoa Comum
· Uma Introdução à Ética para o Gestor Moderno
· Como Viver Uma vida Ética Neste Nosso Mundo Louco e Caótico
· Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Éticas;
Entre outros títulos, todos com muita ética à mistura. Mas, desta vez, o Sr. Ética não entregou um manuscrito sobre ética, isto porque foi preso por falta de ética – foi preso por fuga aos impostos.
Entre a espada e a parede Edwin, tem de avançar rapidamente com uma proposta e o título que lhe vem à mente é o último que acabou de deitar ao lixo: O Que Aprendi na Montanha de Tupak Soiree. Entre muitas peripécias e reviravoltas o livro lá é editado.
Mas este livro é o único livro de auto ajuda que realmente funciona! E isso dita o fim da sociedade tal como a conhecemos.
- Todas as pessoas conseguem deixar de fumar e beber, lá se vão as receitas dos impostos, lá se vão todas as indústrias de produção, lá se vão todos os distribuidores, lá se vão todos os pontos de venda….
- Todas as pessoas passam a ter uma enorme auto-estima: lá se vão os livros de auto estima, lá se vão os ateliers de alta, média e baixa costura…, lá se vão todas as lojas de pronto a vestir, todas as indústrias de maquilhagem, perfumaria e acessórios de moda, lá se vão todos os cabeleireiros, todos os distribuidores de produtos de beleza…. bares, discotecas, cafés…«Carros desportivos… geringonças tecnológicas. Objectos sexuais. Clínicas de emagrecimento os ginásios de musculação até a industria do pronto a comer. Anúncios pessoais, equipas desportivas profissionais»… tudo isto colapsou. Isto porque toda a economia se baseia nos maus hábitos e incertezas da humanidade. Ao alcançarem a felicidade assumindo sem reservas que se é – acabaram-se as compras. Pior ainda acabaram-se as compras de livros.
Mas não só, houve uma debandada geral aos maus parceiros sexuais, aos empregos entediantes, aos empregos stressantes, aos empregos desinteressantes, deixou-se de ir ao cinema, de ver televisão, concertos, exposições.
Lucro só para quem detinha a patente dos produtos Felicidade ®…
Autor: Will Ferguson, CANONGATE BOOKS LTD,...
Editor: Edições ASA
Ano de Edição: 2003
N.º Páginas: 336
ISBN: 9789724132778