segunda-feira, 5 de maio de 2008

A Filha do Capitão

José Rodrigues dos Santos, autor do livro “A Filha do Capitão”, premeia os seus leitores com um livro cujos conteúdos estão contextualizados numa época pouco estudada em Portugal, mais concretamente a economia e a sociedade da época e o quotidiano dos soldados portugueses durante a sua participação na Primeira Guerra Mundial.


O autor descreve as condições de vida no Portugal rural da época, das dificuldades da uma grande parte da população e também da situação de uma “meia dúzia” de privilegiados. O amor não era visto como algo natural, mas sim como algo que se enquadra num mundo de conveniências, denotado pelo esforço de uma mãe, empenhada em dificultar o relacionamento da filha com o seu amado, criando obstáculos como o patrocínio da jovem no Seminário e no Exército, como forma de ganhar tempo para afastar da melhor forma possível os jovens apaixonados.


Ao nível político encontramos uma República em nascimento, algo frágil e pouco credível, que vê na participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial uma forma de se afirmar perante as outras potências europeias. Observa-se um Exército mal treinado e mal organizado, cujas chefias surgiram de forma também muito irregular em função dos ventos de mudança e das tempestades políticas nacionais.


O autor faz descrições pormenorizadas do dia-a-dia dos soldados portugueses, dos seus sonhos, da sua viagem a França e do local do conflito. As condições de vida nas trincheiras, as condições climatéricas, a lama, a fome e a dureza do conflito são momentos pormenorizadamente descritos pelo autor, descrições que se recomendam como leitura obrigatória para os alunos do nono ano.


Fazem-se também descrições de Paris, antes da Primeira Guerra Mundial e da mudança causada no modo de vida dos franceses em geral. Descreve-se a situação de uma estudante universitária francesa que se vê separada dos seus familiares devido à invasão do Exército da Alemanha que dividiu as famílias francesas ao ocupar parte do território francês; assiste-se à viuvez da jovem causada pela guerra; também ao seu casamento apressado pelas conveniências da situação com um homem mais velho, amigo da sua família; até a um caso de amor com um militar português, que é o herói da nossa história.

Vicente Costa ( Professor de História )

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